Maguila: O flagelo de um herói brasileiro

Nas últimas semanas a mídia brasileira vem noticiando a fragilidade da saúde do ex-pugilista Adilson “ Maguila ” Rodrigues. Fato este que me entristece profundamente por ter acompanhado deste garoto sua trajetória no boxe. Portanto não poderia deixar de relatar a magnífica história deste guerreiro campeão na vida e nos ringues.

Sergipano natural de Aracaju, nasceu no dia 12 de junho de 1959, pedreiro de ofício deixou sua terra natal aos 13 anos para se tornar pugilista em São Paulo.

Mesmo passando por inúmeras dificuldades jamais abandonou seu sonho de boxeador e sua honestidade. Durante seis meses se alimentou apenas de pão com banana. Em decorrência disto adquiriu o expressivo apelido de Maguila em menção ao personagem do gorila criado por Hanna Barbera.

Trabalhou na construção civil e como segurança, ao mesmo tempo que treinava boxe diariamente incitado pelos seus ídolos do esporte como Cassius Clay ( Muhammad Ali ) e Eder Jofre considerado por ele o melhor boxeador brasileiro de todos os tempos.

Ainda no anonimato começou a obter as primeiras vitórias, na qual foi galgando patamares maiores com muito esforço e persistência. Assim que começou a auferir ganhos financeiros tratou de construir sua casa com o suor de seu próprio braço, ou seja, o pedreiro agora atleta assentou cada tijolo de seu lar sozinho. Além disto, ajudou toda sua família composta por 19 irmãos e mãe, sem esquecer de ninguém.

Casou-se com Irani Pinheiro, mulher batalhadora que sempre esteve ao seu lado, mesmo sendo mira de maledicências de pessoas inescrupulosas que a julgavam como interesseira aos negócios do marido. Fato desmentido em 27 anos de casamento e cuidando dele amorosamente no momento mais difícil de sua vida.

Diante dos resultados positivos começaram a surgir patrocinadores e pessoas caridosas que passaram a ajudar o plebeu lutador, que jamais deixou de agradecer publicamente cada um deles.

Vencendo e nocauteando adversários chegou em 1989 a ocupar a segunda colocação do ranking pela CMB – Conselho Mundial de Boxe, quase teve a oportunidade de lutar com Mike Tyson, maior nome do boxe mundial na época, porém foi impedido pela perda para a preciosa técnica de Evander Holyfield e pela força destruidora de George Foreman. Mesmo assim, sagrou-se “ Campeão ” em 1995, com 37 anos de idade pela WFB – Federação Mundial de Boxe.

Durante este período outras vitórias ocorriam paralelamente na carreira de Adilson Rodrigues, comerciais e aparições em programas televisivos eram constantes, pois Maguila sempre foi muito carismático.

Outro ponto a destacar é sua humilde afabilidade, pois o mesmo sempre foi alvo de gozações pela sua ignorância cultural. Reflexo de um garoto nordestino que teve que trocar seus estudos pelo sustento da família usurpado pelo trabalho braçal.

Em 1990 teve sua vida historiada em um livro chamado Maguila – A saga de um cabra macho campeão, na qual tive o imenso prazer de ler e aprender sobre a luta para sobreviver e vencer na vida, ensinamentos modestos do servente de pedreiro que se tornara o maior peso pesado do boxe brasileiro.

Incrédulo por uma minoria de comentaristas esportivos, e criticado injustamente por uma pequena parcela do povo, Adilson “ Maguila ” Rodrigues conquistou um cartel invejável no boxe mundial. Foram 86 lutas profissionais, venceu 81, sendo 68 por nocautes e apenas 5 derrotas. Além disto foi Campeão brasileiro, Sul-americano, Latino-americano, Penta Campeão Continental, Campeão das Américas e como citado acima Campeão Mundial.

Não tem como contestar que Maguila é um verdadeiro campeão no pugilismo, pois as vitórias e os títulos conquistados afirmam sua idoneidade esportiva.

No ano de 2000 se aposentou e criou uma ONG intitulada “ Amanhecer Melhor ” entidade filantrópica sem fins lucrativos que estimula crianças a prática esportiva nas mais diversas áreas, principalmente no boxe.

Toda via, acho que a maior herança que ele nos deixa é sua simplicidade devotiva as pessoas, o reconhecimento de sua fragilidade e superioridade daqueles que o venceram, de não retrucar as agressões verbais que sempre sofreu, de agradecer publicamente aqueles que o ajudaram, de não se envergonhar das palavras erradas que proferiu, e acima de tudo de ser brasileiro na sua real essência com todas suas virtudes e defeitos.

Espero sinceramente que ele saia da condição vulnerável de saúde que se encontra e que seu valor humano e atlético seja reconhecido por àqueles que ainda insistem em puni-lo por sua carência de discernimento da bondade e maldade alheia.

Que ainda em vida plena, ele e tantos outros célebres brasileiros sejam reverenciados por sua contribuição à nação, pois, agradecimentos, palavras de afeto, reconhecimento, e atitudes de louvor devem ser declamadas aos homenageados ainda vivos.